O Tao do Ocidente - 24
Palavras de Sabedoria: 40 a 42

40- "Grande calamidade é a corrida pelo sucesso."
Era uma vez um jovem que trabalhava no mercado da cidade. Ele usava de qualquer estratagema para vender suas mercadorias aos fregueses incautos. Como haviam muito mais incautos do que outra coisa, ele foi ganhando dinheiro, e em pouco tempo, antes de completar 17 anos, já possuía sua própria casa. Percebendo que aquelas ruas eram inadequadas aos seus vôos mais altos, afastou-se dali e partiu para uma zona rica frequentada por turistas e estrangeiros. Sua vida pessoal e profissional foi sempre construída sobre intrigas e mentiras. Seu amigo de infância, o alertava para que fosse mais prudente, pois um dia algum freguês enganado poderia, sabe-se lá...
Ele ria muito, porque se julgava o sujeito mais esperto do mundo. Continuou ganhando muito dinheiro e se casou aos 25. Estava com filhos pequenos, quando declarou ao amigo: "Estou certo de que vou ficar muito rico antes de chegar aos 30 anos". O companheiro deu um sorriso complacente e lhe abraçou afetuosamente. O tempo passou. O rapaz chegou aos 27, 28, 29, e os negócios começaram a cair. Apareceram concorrentes, que vendiam produtos melhores e mais em conta. De nada valiam seus protestos cada vez que encontrava um antigo cliente. Ele foi ficando triste, acabrunhado mesmo, e entrou num estado de lamentável depressão.
Construíra para o futuro e esperava que suas habilidades fossem recompensadas. O tempo foi passando, e até sua velhice teve sempre grandes dificuldades em manter uma vida mais ou menos decente. E apesar disto tudo, ele jamais reviu sua posição ou se arrependeu do que fez. O Tao não faz a justiça pelos códigos, mas pela Lei da Harmonia. O rapaz pagou sua conduta desonesta e insensata, pelos efeitos complementares - o enganar pelo ser enganado, e o sonho fútil pela dura realidade.
41- "O não-fazer constrói tanto quanto o fazer destrói."
Lembremos que o não-fazer, é um estado de receptividade mental e física - mas não de paralisia - onde o espaço que esvaziamos de nossas preocupações, é preenchido pelo Tao em sua função regeneradora. É exatamente assim que ele trabalha por você. No início de nossa experiência com o Tao, é natural que estejamos ainda tão cheios de dúvidas e descrenças que possivelmente o primeiro exercício que fizermos, mesmo que seja o de aliviar uma simples dor de cabeça, se constitua num desastre, ou no máximo um sucesso muito relativo. Para a maioria das pessoas, será um retumbante fracasso e nunca mais vão querer saber deste Tao.
Ora, a ação do Tao exige como pré-requisito um espaço calmo e harmônico para que ele possa agir - duas coisas não podem ocupar o mesmo lugar, diz a Física. As nossas preocupações nesse estágio, estão mais voltadas para o resultado e para o processo. Assim, não se consegue formar aquele vazio FUNDAMENTAL para se receber o reequilíbrio do Tao. E não o fazendo, não obteremos resultados. Se durante o exercício você passar a orar, suplicar, etc., isso só terá algum resultado se você afastar a mente do problema.
A prece é o wu-wei ocidental. Em relação ao "fazer" a explicação é muito mais simples. As soluções que encontramos para os problemas de nosso dia-a-dia, são baseadas em proposições racionais. O hemisfério direito do cérebro, diz respeito à lógica e à razão. O hemisfério esquerdo, às emoções e à intuição. Ao resolvermos uma questão teríamos que utilizar as duas partes do cérebro, como se fossem as duas metades do Tai-Chi. Só que nós raramente damos algum valor à intuição. A razão é a ferramenta da inteligência, e a intuição a da sabedoria.
42- "O sábio se alegra com a alegria dos outros."
Por alguma razão, existe a ideia que os sábios, os monges e mesmo os homens cultos, são pessoas sem senso de humor. Alguns tópicos atrás, foi dito que um sábio arrogante não passa de um ignorante. Sabe por que? Porque a sabedoria é filha dileta da intuição, que mora no hemisfério esquerdo de nosso cérebro. Neste mesmo lado, também se situam as emoções, os grandes prazeres, a estética, o humor, a alegria... Há assim, tal como no Tai-Chi, duas partes opostas mas complementares. A razão, a lógica, o bom-senso, a responsabilidade, a técnica, residem no lado direito da rua mental. No outro lado, seus vizinhos são mais alegres, um pouco irresponsáveis, emotivos, amorosos, desinteressados, um tanto anarquistas, gente que vive mais descontraída.
Para os que gostam da Astrologia, o hemisfério direito seria regido por Saturno, com toda sua carga de responsabilidade, severidade e ortodoxia. O hemisfério esquerdo teria como regente um Júpiter criativo, alegre e original. O sábio é um homem despojado, sem inveja, atencioso e prestativo. Esta é a razão dele se alegrar com o riso dos outros e não sentir nenhum constrangimento em rir junto, se alegrar com quem está feliz. Ele fica satisfeito com a vitória dos outros, o que é raro num ser humano. É uma grande satisfação que ele tem, pois sabe que a pessoa sorridente está passando por um momento de grande Harmonia.
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Fonte do Texto
O Tao do Ocidente.
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© 2000. P. G. Romano.
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Agradeço a esse autor por
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Fonte da Imagem Editada
Autor: Sasin Tipchai (Tailândia).
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