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Poesias de Khalil Gibran - Página 2


Khalil Gibran

Gibran Khalil Gibran, também conhecido como Khalil Gibran (1883 - 1931), foi um ensaísta, filósofo liberal, prosador, poeta, conferencista e pintor de origem libanesa. Viveu na França e nos EUA. Também foi um aclamado pintor. Sua obra, acentuadamente romântica e influenciada por fontes de aparente contraste como a Bíblia, Nietzsche e William Blake, apresenta a beleza da alma humana e da Natureza, num estilo belo, místico, conseguindo com simplicidade explicar os segredos da vida, da alegria, da justiça, do amor, da verdade.
(Resumido e adaptado da Wikipédia)



Índice

As Crianças;
A Liberdade;
As Dádivas;
A Tempestade.


As Crianças

E uma mulher que acalentava um bebê disse:
- Fale-nos de crianças...
E ele disse:

- Tuas crianças não são tuas crianças.
Elas são os filhos da Vida que anseia por si mesma.
Elas vieram através de ti mas não de ti,
e a despeito de estarem contigo
elas não te pertencem.

Tu podes dar-lhes teu amor
mas não teus pensamentos,
pois elas têm seus próprios pensamentos.

Tu podes hospedar seus corpos mas não suas almas,
pois suas almas habitam na casa do amanhã,
que não podes visitar, mesmo em teus sonhos.

Tu podes empenhar-te para seres como elas,
mas não tentes fazê-las serem como tu,
pois a vida não caminha para trás
nem coabita com o ontem.

Tu és o arco,
do qual tuas crianças, como flechas vivas,
são impulsionadas.
Arqueiro, vê a marca,
sobre a trajetória do infinito,
a ele te dobra com seu poder,
para que tuas flechas sigam
velozes e para longe.

Faze com que a tensão na mão do arqueiro
seja para o contentamento e a felicidade;
Pois assim como Ele ama a flecha que voa,
Ele ama também o arco que é firme".


A Liberdade

E um orador disse:
- Fala-nos da Liberdade.

E ele respondeu:

- Às portas da cidade,
e nos vossos lares,
dei convosco prostrados
em adoração
da vossa própria liberdade,

Como escravos que se humilham
diante dum tirano
e que o glorificam
enquanto ele os destrói.

Sim, no bosque do templo
e na sombra da cidadela
vi os mais livres que vós
usarem a sua liberdade
como jugo e como algemas.

Meu coração sangrou dentro de mim;
pois não sabereis ser livres
senão quando o próprio desejo
de chegar à liberdade
se tornar para vós um arnês
e quando deixardes de falar da liberdade
como de um fim e de uma conclusão.

Sereis livres de fato
não quando os vossos dias
decorrerem sem cuidados
e as vossas noites sem desejos
e sem fadigas,
mas antes quando todas essas coisas
cercarem a vossa vida
e vos elevardes acima delas,
nus e libertos.

Mas como podereis estar acima
de vossos dias e de vossas noites,
se não quebrardes as cadeias
que na alvorada do vosso uso da razão
fizestes pesar
sobre a vossa hora do meio dia?
De fato, o que chamais liberdade
é a mais forte dessas cadeias,
ainda que os seus anéis
vos deslumbrem brilhando ao sol.
E tudo o que quereis afastar
para ficardes livres,
que é, senão fragmentos de vós mesmos?

Se é uma lei injusta que quereis abolir,
tal lei foi escrita pela vossa mão
na própria testa.
Não podereis apagá-la
queimando os vossos livros de leis
nem lavando as frontes dos vossos juízes,
ainda que entorneis todo o mar
em cima deles.

E se é um tirano
quem quereis destronar,
vede, antes de tudo, se o trono dele em vós
está bem destruído.
Porque, como pode um déspota
dominar os livres e altivos,
se não houver tirania
na liberdade desses
e vergonha na sua própria altivez?

E se é a inquietação que quereis expulsar,
tal inquietação foi escolhida por vós
e não tanto imposta de fora.

E se quereis dissipar o medo,
a sede desse medo é o vosso coração
e não a mão que vos assusta.

De fato, todas as coisas se movem
no mais íntimo do vosso ser,
num constante semi-abraço,
tanto as desejadas quanto as temidas,
as repugnantes e as tentadoras,
aquelas que buscais
como aquelas de que fugis.

Tais coisas movem-se dentro de vós
como luzes e sombras,
em pares estreitamente unidos.
E quando a sombra
se debilita e desaparece,
a luz que resta
torna-se sombra de uma nova luz.

E assim a vossa liberdade,
desembaraçada de estorvos,
torna-se ela própria embaraço
de uma liberdade maior.


As Dádivas

E ele respondeu:

"Vós pouco dais quando dais de vossas posses.
É quando dais de vós próprios que realmente dais.
Pois, o que são vossas posses senão coisas que guardais,
por medo de precisardes delas amanhã?

E amanhã, que trará o amanhã ao cão ultraprudente,
que enterra ossos na areia movediça
enquanto segue os peregrinos até a cidade santa?

E o que é o medo da necessidade senão a própria necessidade?
Não é vosso medo da sede, quando vosso poço está cheio,
a sede insaciável?

Há os que dão pouco do muito que possuem,
e o fazem para serem elogiados,
e seu desejo secreto desvaloriza suas dádivas.

E há os que pouco têm e o dão inteiramente.
Esses confiam na vida e na generosidade da vida,
e seus cofres nunca se esvaziam.

E há os que dão com alegria, e essa alegria é sua recompensa.
E há os que dão com pena, e essa pena é seu batismo.
E há os que dão sem sentir pena nem buscar alegria
e sem pensar na virtude: dão como, no vale, o mirto espalha
sua fragrância pelo ar.

Pelas mãos de tais pessoas, Deus fala;
e através de seus olhos Ele sorri para o mundo.
É belo dar quando solicitado; é mais belo, porém,
dar sem ser solicitado, por haver apenas compreendido;

E, para os generosos, procurar quem recebe é uma alegria
maior ainda que a de dar.
E existe alguma coisa que possais guardar?

Tudo que possuís será um dia dado.
Dai agora, portanto, para que a época da dádiva seja vossa
e não de vossos herdeiros.

E vós que recebeis - e vós todos recebeis -
não assumais nenhum encargo de gratidão,
para não pordes um jugo sobre vós
nem sobre os vossos benfeitores.
Antes, erguei-vos, junto com eles,
sobre asas feitas de suas dádivas;
Pois se ficardes em demasia
preocupados com vossas dividas,
estareis duvidando da generosidade
daquele que tem a terra liberal por mãe e Deus por pai.

Vós dizeis muitas vezes: "Eu daria, mas somente a quem merece".
As árvores de vossos pomares não falam assim,
nem os rebanhos de vossos pastos.
Dão para continuar a viver, pois reter é perecer.
Certamente, quem é digno de receber seus dias e suas noites
é digno de receber de vós qualquer coisa mais.

E quem mereceu beber do oceano da vida,
merece encher sua taça em vosso pequeno córrego.
E que mérito maior haverá do que aquele
que reside na coragem e na confiança,
mais ainda, na caridade de receber?

E quem sois vós para que os homens
devam expor seu intimo e desnudar seu orgulho,
a fim de que possais ver
o mérito deles despido, e o amor-próprio rebaixado?

Procurai ver, primeiro, se mereceis ser doadores
e instrumentos do dom.
Pois, na verdade, é a vida que dá a vida,
enquanto vós, que vos julgais doadores,
sois simples testemunhas.


A Tempestade

O Pássaro e o homem têm essências diferentes.
O homem vive à sombra de leis e tradições por ele inventadas;
o pássaro vive segundo a lei universal que faz girar os mundos.

Acreditar é uma coisa; viver conforme o que se acredita é outra.
Muitos falam como o mar, mas vivem como os pântanos.
Muitos levantam a cabeça acima dos montes,
porém sua alma jaz nas trevas das cavernas.

A civilização é uma árvore idosa e carcomida,
cujas flores são a cobiça e o engano e cujos frutos
são a infelicidade e a inquietação.

Deus criou os corpos para serem os templos das almas.
Devemos cuidar desses templos para que sejam
dignos da divindade que neles tem morada.

Procurei a solidão para fugir dos homens, de suas leis,
de suas tradições e de seu ruído.
Os endinheirados pensam que o sol e a lua e as estrelas
levantam-se dos seus cofres
e se deitam nos seus bolsos.

Os políticos enchem os olhos dos povos com poeira dourada
e seus ouvidos com falsas promessas.

Os sacerdotes aconselham os outros,
mas não aconselham a si mesmos,
e exigem dos outros o que não exigem de si mesmos.
Vã é a civilização. E tudo o que está nela é vão.
As descobertas e invenções não são mais que brinquedos,
com a mente se divertindo no seu tédio.

Cortar as distâncias, nivelar as montanhas,
vencer os mares,
tudo isso não passa de aparências enganadoras,
que não alimentam o coração nem elevam a alma.

Quanto a esses quebra-cabeças, chamados ciências e artes,
nada são senão cadeias douradas
com as quais os homens
acorrentam-se, deslumbrados com seu brilho e tilintar.

São os fios da tela que o homem tece
desde o inicio do tempo,
sem saber que, quando terminar sua obra,
terá construído a prisão
dentro da qual ficará preso.

Uma coisa só merece nosso amor
e nossa dedicação,
uma coisa só...
É o despertar de algo
no fundo dos fundos da alma.
Quem o sente,
não o pode expressar em palavras.
E quem não o sente,
não poderá nunca o conhecer por palavras.
Faço votos para que aprendas
a amar as tempestades
em vez de fugir delas.

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Fonte do Texto

Livro "O Profeta", de Khalil Gibran.


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