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Poesias de JG de Araújo Jorge - Página 1


JG de Araújo Jorge

José Guilherme de Araújo Jorge (Tarauacá,no Estado do Acre, 20 de maio de 1914 - Rio de Janeiro, 27 de janeiro de 1987), mais conhecido como J. G. de Araújo Jorge, foi um poeta e político brasileiro. Em 1932, no Externato Colégio Pedro II, em memorável certame, foi escolhido o "Príncipe dos Poetas", sendo saudado na festa por Coelho Neto, "príncipe dos prosadores brasileiros" recebendo das mãos da poetisa Ana Amélia, presidente da Casa do Estudante, como prêmio e homenagem, um livro ofertado por Adalberto Oliveira, então "Príncipe da Poesia Brasileira".

Foi orador e posteriormente deputado federal. Ainda estudante venceu concursos de oratória. Em Coimbra recebeu o título de "estudante honorário" e fez Curso de Extensão Cultural na Universidade de Berlim. Foi conhecido como o Poeta do Povo e da Mocidade. Sua obra lírica, de linguagem simples, é impregnada de romantismo moderno, mas às vezes, dramático. Foi um dos poetas mais lidos no Brasil.
(Resumido e adaptado da Wikipédia)



Índice

A Casa Abandonada;
A Cruz de Ninguém;
À Espera;
A Ilusão de Ser Feliz;
A Última Estrela;
A Vida que eu sonhei.


A Casa Abandonada

Abro a janela da minha alma e espio:
- tudo é negro é completa a escuridão...
Nesse estranho lugar, triste e vazio,
hoje habita somente a solidão

Há teias de saudade em cada canto,
e a poeira de um amor cobre o seu chão...
São sombrias as salas, - velho encanto
há nesse feio e escuro casarão

Uma ruína em meu peito, abandonada,
com muros desbotados... cheios de hera...
-como um túmulo à beira de uma estrada,
que nada mais desta existência espera...

O tempo, pouco a pouco, já a consome,
- outrora, por exemplo - havia um nome
de mulher, no portal, mas se apagou...

Quantos homens como eu, na alma fechada,
vão levando uma casa abandonada
de onde alguém que partiu não mais voltou!..


A Cruz de Ninguém

Era uma cruz... pequena... de madeira...
em meio às outras cruzes, desprezada,
sobre um monte de terra, abandonada,
sem uma flor sequer por companheira...

Pendendo sobre o chão, tosca, bem feia,
cobria o corpo de um, que foi fadado
a ser talvez, na vida, um desgraçado,
hoje feliz sob um montão de areia...

Vendo-a tão só, nublou-se o meu olhar,
e orei por esse irmão que ali dormia,
pois morto eu fosse, e a minha cruz seria
tal como aquela, ao tempo, a se inclinar...
...........................................

Ao partir... junto à cruz triste e sozinha
escrevi sobre a terra uma inscrição
que é bem possível que ainda seja a minha:

"Aqui se encontra alguém desconhecido,
um que nasceu talvez por irrisão
e que morreu, sem nunca ter nascido..."


À Espera

Ela tarda... E eu me sinto inquieto, quando
julgo vê-la surgir, num vulto, adiante,
- os lábios frios, trêmula e ofegante,
os seus olhos nos meus, linda, fitando...

O céu desfaz-se em luar... Um vento brando
nas folhagens cicia, acariciante,
enquanto com o olhar terno de amante
fico à sombra da noite perscrutando...

E ela não vem...Aumenta-me a ansiedade:
- o segundo que passa e me tortura,
é o segundo sem fim da eternidade...

Mas eis que ela aparece de repente!...
- E eu feliz, chego a crer que igual ventura
bem valia esperar-se eternamente!...


A Ilusão de Ser Feliz

Silêncio... A Noite pesa sobre tudo,
e eu, quedo, triste, retraído e mudo
vou traduzindo a dor que me consola...

Deixo falar meu coração tristonho,
e assim, vou despertando um pobre sonho
que alguém me deu por derradeira esmola...

Relembro o doce amor que tanto adoro
e sinto que ao lembrá-lo, quase choro
talvez porque não sei me compreender...

Partiste...e nem sequer adeus te disse
só por temer que desse adeus surgisse
a triste confissão de meu sofrer.

Prefiro esse meu sonho por ventura
uma vaga esperança por tortura
e um porvir de quiméricas visões...

Feliz, eu me contento com a incerteza,
sentindo a vida, embora com tristeza,
uma linda cadeia de ilusões...

E é tudo que me resta. O coração
ainda tenho a pulsar, nesta visão
que, por que tive medo, não desfiz...


A Última Estrela

Voltaste as folhas, uma a uma, e agora
vais fechar este livro: a noite é finda...
O "meu céu interior..." já se descora
à luz de um dia que não vive ainda...

Não sei se achaste a minha noite linda,
se sentiste, como eu, o vir da aurora...
Vai a luz aumentando...A noite é finda
O "meu céu interior..." já se descora!...

Cada folha voltada, foi assim
como um raio de luz, a mais, brilhando...
- como uma estrela que encontrou seu fim...

Esta folha - é da noite, o último véu...
E este verso que lês, e vai findando,
a última estrela a se apagar no céu!...


A Vida que eu sonhei

Eu sonhei para mim, uma vida discreta
num lugar bem distante, a sós, tendo-te ao lado
- num castelo que fiz lá num reino encantado,
nesse reino que eu chamo o coração de um poeta...

Sonhei... Vi-me feliz na solidão de asceta,
bem longe deste mundo, a rir, despreocupado...
- acordando a escutar no arvoredo o trinado
das aves, e a dormir fitando a lua inquieta...

Vivia na ilusão daquele que ainda crê,
na vida, e o meu amor, eu o tinha idealizado
no romance de um lar coberto de sapê...

- Mentiras que eu sonhei!... No entanto hoje me ponho
muita vez a pensar no tal reino encantado
e sinto uma saudade imensa do meu sonho!...

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Fonte dos Textos

"Meu Céu Interior", 1ª ed., set. de 1934.


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