Revista Amaluz: Página 51
Falando com os Duendes
(e Escutando, também)
Vários Seres da Natureza e Obehon, por Francesca Thoman
Nota de Euro Oscar: Dividi o texto em 2 partes, para este sítio.
Parte 1
Em primeiro lugar, algumas definições úteis. Nesta discussão, os duendes são um grupo variado, mas todos têm em mente uma coisa: criar uma coisa específica a partir de partes de outras coisas — ou seja, todos os tipos de produção. As fadas são seres que se transformam em coisas, em geral saúde (em sua definição ampla) e beleza. Os devas são seres que são coisas, em especial forças e elementos.
As demais diferenças quanto a termos (gnomos, kobolds, sílfides, ondinas, dríades, ninfas e por aí vai) se devem a diferenças de idioma ou simplesmente preferência. O que chamamos duendes aqui alguns podem chamar fadas; o que chamamos fadas aqui em outro lugar podem ter o nome de devas, mas não faz diferença.
De nosso ponto de vista, existem apenas três classes principais de seres não-humanos, perfeitamente inteligentes, com frequência astutos seres extradimensionais, essências e ajudantes. Todos trabalham no contexto do Ser Único, o Tudo Que É. Em seus melhores dias, nunca se esquecem do próprio significado no contexto de seu ambiente. Na pior das hipóteses, eles ficam tão isolados quanto qualquer ser humano em suas horas mais terríveis de dor, solidão e perda.
Gostaríamos de dar algumas instruções gerais sobre como falar especificamente com duendes. Fadas também, pois muitos leitores praticam jardinagem, e as fadas frequentemente ficam nos jardins. As conversas com devas são para os que os buscam respeitosamente e com um propósito específico em mente, mas os duendes não se importam que simplesmente tagarelem com eles. E as fadas gostam ainda mais, porque acham os seres humanos muitas vezes muito engraçados (quando os seres humanos pensam que estão sendo sérios).
Devas
Os devas são o impulso para a vida presente nas grandes coisas: ar, água, fogo, terra, vento, clima, gelo. Cada área de terra tem um deva, desde o canto inesperadamente calmo escondido entre as árvores da rotatória do trevo de uma autoestrada, até os devas dos mares (Báltico, Cáspio, do Norte e assim por diante). Quando vocês começarem a reconhecer a sensação transmitida pelos lugares, começarão a reconhecer os devas. Existem devas para todas as coisas interessantes: alegria, felicidade, tristeza, pesar, prazer, cura, comida. Existe um deva para a eletricidade, um deva para a comunicação. Os devas são as palavras da linguagem articulada do Ser Único — as intenções vivas, inteligentes, ativas por trás das manifestações essenciais.
O deva da água é um ser sensual, opulento, rico, vibrante, voluptuoso que ama a vida com tanta paixão que pode fazer viver todas as coisas. O deva local de qualquer clima apresenta caráter individualista, podendo ser alterado de forma bastante dramática pelas ações humanas. O deva de São Francisco (todas as cidades têm seus próprios devas, claro!) é um ser variado composto dos lugares da cidade, mas mostra beleza, congenialidade, liberdade e energia de forma muito firme no primeiro plano de sua mente criativa. Os bairros que formam as cidades e que estão deteriorados pela feiúra, desespero, iniquidade e perigo têm um deva doente. O deva pode ser curado com meditações e orações, bem como ações honestas. Os bairros são limpos e revitalizados pelos que têm magia nativa suficiente para literalmente recriar o antigo deva ou gerar um novo deva por meio do sonho, dedicação e ação criativa.
As pessoas que ficam em bairros deste tipo para manter as energias positivas que antes havia ali quase sempre são mestres deva. Ou seja, elas foram avisadas pelos devas e receberam deles muito respeito, passando a ter capacidade de orientá-los. Como se consegue o respeito de um deva? Sendo o mais sinceros que puderem consigo mesmos‚ o mais amorosos que puderem, e ter um anseio, uma paixão, pelo que é íntegro. O que vocês conseguirem fazer com estas três ideias, por melhores que sejam nestas qualidades, será suficiente. A profundidade de suas comunicações com os devas depende de sua própria profundidade, sua própria paixão e sua própria capacidade de dedicação. O que vocês realizarem, receberão de volta.
Os devas amam quem os ama, assim como os seres humanos. Vocês podem literalmente ficar amigos de um elemento, como a água ou o fogo ou a chuva ou o vento. Esta amizade é expressa por meio da apreciação, deleite, prazer e respeito mútuos em relação à natureza um do outro. Quando vocês criam um lugar — uma lagoa, um jardim, um terraço com um banco, uma área para brincadeiras, uma piscina — vocês criam, no sentido de manifestar, um novo deva. Deem-lhe as boas-vindas quando tiverem terminado, e sintam seu extravasamento de prazer ao ser reconhecido!
Fadas
As fadas são seres de luz. São elas que se transformam nas cintilações quando a luz do sol bate na água. São a emoção de existir quando uma flor desabrocha, quando um bebê de qualquer tipo nasce ou quando um novo jogo é inventado e jogado. As fadas são o meio pelo qual a alegria é transmitida dentro de um sistema ou de um ser físico. Sua alegria clara e cintilante é intensa e espontânea. Ao contrário dos devas e duendes, são virtualmente incapazes de fazer mal ao que quer que seja.
(Os devas dos elementos podem causar o mal, embora nunca gostem de agir assim. Também podem refletir o mal, como quando refletem a tristeza, desespero ou solidão de um lugar. Isso também acontece com os duendes, que podem se tornar daninhos, às vezes até malignos, quando passam a acreditar não existir outro modo de comunicar suas intenções ou manifestar os propósitos de sua existência.)
As próprias fadas são pontos de beleza. Ao reconhecer a beleza de uma coisa, lugar ou acontecimento, vocês reconhecem a participação das fadas. Elas adoram coisas alegres — festas de aniversário, sinfonias no parque, jogos, brincadeiras e risos. O brotar, desabrochar, abrir, a maturidade e as sementes de uma flor para elas podem ser tão ricos como toda uma vida humana. Elas acrescentam alegria ao sadio e restauram o cansado.
Fala-se com fadas, assim como com duendes, por meio de gestos. Quando vocês molham seu jardim, suas fadas locais ouvem seu cuidado. Quando vocês inspiram a felicidade de estarem vivos ao sol, no vento, entre os aromas da primavera ou verão ou inverno ou outono, elas rodopiam alegremente à sua volta, como minúsculos insetos rodopiam e dançam no ar no fim das tardes. Elas adoram os sons de coisas vivas, desde rãs até pássaros, passando pelo zumbido dos insetos. Quando vocês apreciam o que está vivo, comunicam essa alegria diretamente a elas, que respondem com pequenos afagos cheios de deleite. Adoram crianças de todos os tipos. Lembram-se de que quando eram crianças às vezes riam sem nenhuma "boa" (adulta) razão? As fadas estavam em sua aura, revigorando e avivando, fazendo reluzir sua beleza e rindo seus risos miúdos e poderosos de puro deleite.
Quando a pessoa é descuidada e desatenta ao lixo, ao próprio trabalho ou às próprias interações para com outras coisas vivas, elas ouvem a qualidade de seu alheamento, sua dor, talvez, ou sua apatia de espírito. Vocês podem pedir-lhes que os reanimem quando por um momento forem para fora. Podem pedir-lhes que renovem seu espírito quando se derem um momento sossegado. Embora as fadas prefiram de longe ficar ao ar livre, entram quando convidadas. Gostam de pequenas áreas de beleza: coleções de pedras ou cristais bonitos, uma fonte de mesa, um altar, uma coleção de plantas. Contudo, tendem a cair no sono se elas — ou a área bonita — não forem frequentemente notadas. Ao tirar o pó de seu altar, vocês as despertam!
Duendes
Duendes em geral são muito inteligentes, e normalmente bem pragmáticos. Eis a razão de existirem duendes para carros específicos, eles percebem que precisamos dos carros, e concordaram em nos ajudar a usá-los. (A ideia essencial de carro ou qualidade de carro é um domínio dévico.) Há duendes de casas, duendes de seminários, duendes da pintura (tanto artística como dos outros tipos), duendes da escavação, empreitada e construção, estaleiros, agricultura, fabricação de arreios, do ferrador de cavalos, da costura e outros mais. Eles tendem a trabalhar melhor com uma pessoa de cada vez, especialmente quando essa pessoa estiver às voltas com uma tarefa específica. Podem ser encontrados em pequenas fábricas, lojas, mercados e coisas assim, mas quando um lugar de criação fica muito grande, eles em geral tentam decompor o todo em partes que possam ser controladas ou dar o todo a um deva.
Quanto a falar com duendes, os seres humanos o fazem o tempo todo. Vocês nem sempre prestam atenção ao que dizem, mas eles estão ao redor para ouvir. Eles não têm opiniões sobre o que vocês chamam este ou aquele equipamento "difícil" ou impossível, e muitas vezes tentam atender suas preferências quanto a ele, às vezes com resultados desastrosos.
Agora, não queremos com isso condenar o fato de vocês expressarem sua raiva com uma, duas ou várias imprecações. Contanto que fique claro a vocês e eles que vocês estão desabafando, podem chamar a coisa com que estão trabalhando de qualquer nome. A maneira de impedir que estes nomes peguem é se desprender o máximo possível da raiva quando se sentirem aliviados. Então a raiva se transforma em energia livre que é acrescida ao sistema. Esta energia livre pode ser usada com eficácia pelos duendes, embora isso às vezes seja complicado!
Contudo, se vocês se apegarem à raiva, levando-a para dentro, onde se transformará em desprezo pelo que está à sua volta, então ficará muito difícil para eles trabalhar com vocês. Afastar-se do problema (de preferência saindo ao ar livre para que as fadas possam reanimá-los) é em geral um boa estratégia, porque purifica o espaço e permite aos duendes trabalhar da maneira que eles já sabem. A raiva, como sabem, é grudenta. Pode ser maravilhosamente útil ou irritante como a melhor cola do mundo.
Os duendes adoram trabalhar com as pessoas individualmente. Aquela antiga história dos Duendes e do Sapateiro é mais verdadeira do que se pensa. (O único detalhe oculto é que o "sono" do sapateiro era, na verdade, um estado alterado de consciência.) Contudo, eles não se importam de serem tratados coletivamente. Ou seja, não ficam ofendidos quando vocês dizem: "Ei, caras, onde está o alicate de ponta fina?" Eles então fazem o possível para atrair sua atenção à área para a qual devem olhar, dando aos músculos de seu pescoço o impulso para virar sua cabeça em certa direção, digamos, ou lhes dando a ideia de sair da sala, de forma que quando entrarem novamente, em consequência da mudança de sua perspectiva, vejam a ferramenta perdida.
Os duendes que ajudam os seres humanos a criar coisas estão ali para fazer mais do que encontrar ferramentas perdidas. Ajudam a manter estável sua energia e evitam que sua concentração se torne tensão. É verdade, se vocês estiverem frenéticos, ansiosos ou apavorados por causa de prazos finais, eles não podem ajudar muito. Quando vocês perdem a cabeça, mal conseguem se ouvir pensar, muito menos prestar atenção a qualquer sugestão vinda deles. "Já para fora com as fadas!" os duendes talvez se riam, e se vocês puderem sair por certo tempo, as coisas provavelmente melhorarão.
Os duendes mudam de forma, não apenas quando estão trabalhando em aspectos diferentes de um projeto, mas simplesmente por ser divertido. O duende clássico, cheio de mesuras com o chapeuzinho e tudo mais, é uma forma que eles podem assumir, mas em geral são muito mais imprevisíveis quanto a suas formas — tão imprevisíveis, de fato, que os seres humanos têm dificuldade de vê-los, quanto mais acreditar que estejam ali. No entanto, se vocês forem um pouco sensíveis, se conseguem sentir as presenças de outras pessoas e seres mesmo sem vê-los ou ouvi-los, então é bem provável que identifiquem com bastante exatidão o fato de os duendes estarem ali. O que sua mente consciente faz com esta percepção inconsciente depende de suas crenças, claro. Porém, sistemas e seres vivos sempre têm consciência uns dos outros.
Vocês podem falar com os duendes por meio de suas ações. E realmente o fazem, quer tenham essa intenção, quer não. (Eles ajudaram a inventar a frase: "Suas ações falam tão alto, não consigo ouvir uma palavra do que dizem.") Para eles, promessas não são comunicação. Ação, em especial a ação criativa, sim. Quando vocês fazem algo belo ou algo que pode contribuir para a paz (como um caramanchão sobre um banco, um altar ou um caminho de pedra), então vocês estão se comunicando diretamente com os duendes. Suas ações dizem: "Estou comprometido com este lugar onde moro ou trabalho. Estou aqui para criar para mim, sim, mas também a bem da alegria espontânea proporcionada pela beleza. Posso até ter intenção de me tornar um artesão, alguém que aprende e então difunde o aprendizado desta criatividade específica. Mas mesmo que eu só faça este caminho ou só este balanço na varanda ou só esta decoração de Natal, desejo dar minha contribuição ao mundo. Venham me ajudar a contribuir com a totalidade do mundo!"
Eles ficam encantados com esse tipo de mensagem. E dão uma resposta, sempre. Mas como os seres humanos há muito se esqueceram de que podem se comunicar com seres vivos que não conseguem enxergar, quando entabulam uma longa conversa, os duendes desenvolveram uma resposta quase infalível: pressentimento. Vocês poderiam chamá-la de impulso, palpite ou estranhas ideias, mas com frequência são os duendes se comunicando com vocês.
Seu Eu Superior e seu outro guia conversam com vocês desta maneira também. Porém, as partes invisíveis envolvidas têm pouca dificuldade em saber de quem vem a ideia. Todos eles gostam muito mais de resultados do que de fama ou notoriedade!
Se alguma parte de um projeto não vai bem, ergam-se por um momento, respirem, e então sigam seu impulso. Se seu "impulso" estiver há muito tempo fora da ativa, vocês talvez acabem com um monte de respostas "erradas." Persistam. Quando vocês e seu guia e os de outras pessoas que estiverem trabalhando com vocês ficarem convencidos, por meio de suas ações, que vocês são sinceros em relação a tudo isso, eles continuarão a responder até as linhas de comunicação se abrirem totalmente.
Para os duendes, falar por meio de palavras é considerado tedioso demais para que se deem ao trabalho de fazê-lo, especialmente quando outros métodos funcionam tão bem ou melhor. Os animais, por exemplo, não têm linguagem verbal, mas raramente há confusão sobre suas intenções, sentimentos e preferências. Os duendes operam do mesmo modo. Se puderem comunicar melhor o prazer que sentem com seu trabalho ajudando-os a encontrar suas ferramentas, fazendo-os virar os botões certos no momento certo, fazendo com que a terra deslize corretamente no carrinho certo ou que sejam encontradas as pedras exatas para as bordas da piscina, é assim que o farão.
Qualquer um que trabalhe com animais achará bem fácil trabalhar com duendes, pois está acostumado a uma visão não-verbal do mundo. O fato de vocês, seres humanos, às vezes acharem mais difícil de entender os animais do que os animais os entenderem mostra quão dependentes se tornaram da visão de mundo que adapta tudo ao contexto da linguagem. O "divórcio forçado" científico que tira a emoção da realidade experimentada e a "objetividade científica" que diz que somente os seres humanos sentem dor ou perda ou o que for, dificultaram de forma extrema suas inter-relações com a realidade viva à sua volta.
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Fonte
Textos publicados originariamente na revista Amaluz, que há mais de dez anos não tem sido editada, embora fosse uma ótima publicação. Permitiram estas minhas republicações aqui, pelo que fico imensamente grato. Faço votos de que a estimada revista e o site possam renascer, com a mesma qualidade de antes.
Euro Oscar, autor deste site.
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