
Poesias de JG de Araújo Jorge - Página 4

José Guilherme de Araújo Jorge (Tarauacá, Estado do Acre, 20 de maio de 1914 - Rio de Janeiro, 27 de janeiro de 1987), mais conhecido como J. G. de Araújo Jorge, foi conhecido como o "Poeta do Povo e da Mocidade", um dos mais lidos no Brasil. Ainda estudante venceu concursos de oratória. Foi estudar em Coimbra e em Berlim e também foi deputado federal. Sua obra lírica, de linguagem simples, é impregnada de romantismo moderno, às vezes dramático.
(Resumido e adaptado da Wikipédia)
Índice
É por Muito te Amar;
Ela;
Esfinge;
Esquecimento;
Estranha Encruzilhada;
Eu não Acreditava Mais;
Êxtase.
É por Muito te Amar
É por muito te amar que não quero aceitar-te...
Sou pobre... sou artista... e estimo esta pobreza...
Agora, tu que és rica, e habitas na riqueza,
- por que pensas em mim? procura um outro... Parte...
Este amor que sonhei é o símbolo de uma arte,
- é o mesmo que devoto à própria natureza...
Existe, mas somente - eu tenho certeza -
nos versos que fizer julgando consagrar-te...
É um sonho... uma quimera... uma ilusão de artista...
que não pode viver... que o tempo há de apagar,
como a estrela que cai e que não mais se avista...
Não penses mais em mim... Procura um outro... Parte!...
Há o destino entre nós... tu não podes me amar
e é por muito te amar que não quero aceitar-te!...
Ela
À beleza tão pura do semblante,
à luz sublime que há nos olhos dela,
- pergunto-me a mim mesmo a todo instante,
como tão simples pode ser tão bela...
Diferente das outras, diferente
dos moldes tão comuns de uma mulher,
- ela me faz pensar num mundo ausente
deste que a gente sem querer já quer...
Bem que a quis esquecer - e noutro amor
procurei me enganar, acreditando
ser do meu pobre coração, senhor...
Em vão tentei... Em vão... Vendo-a naquela
doce e pura expressão - fico pensando
que é impossível não pensar mais nela!...
Esfinge
Tens no branco da face a palidez marmórea
das estátuas sem vida e dos corpos sem sangue,
e no aire do teu porte, suavemente langue,
há uma grande tristeza estranha e merencória...
Faz noite na tua alma - e nessa noite existe
uma luz que se esvai... um sombrio luar,
-clareando vagamente o teu mortiço olhar...
- velando a tua vida imensamente triste...
Se perdeste um amor... se sofreste talvez,
não procures lembrar o que ficou distante
- o que o mundo roubou, e o destino desfez...
Que mistério reténs?... Vem ser feliz comigo...
Far-te-ei amar de novo, e hás de ver triunfante
meu amor apagando o teu amor antigo...
Esquece a tua dor... Revive no porvir...
- és a estátua de carne, e eu darei minha vida
para vê-la vibrar... para vê-la sentir...
Eu te quero como ninguém mais quis...
- ajuda-me e verás tua dor esquecida
neste amor que só pensa em te fazer feliz!...
Esquecimento
Mais tarde em tua vida, um dia, hás de tentar
revolver da memória este tempo de agora...
- Mas o mundo é uma praia, onde as ondas do mar
apagam quase sempre as lembranças de outrora...
Hás de em vão, ao teu Deus, esse Dom suplicar
sem conseguires nunca o que a tua alma implora...
- É que a vida é uma fonte, a correr sem parar
e a seguir, sem voltar, por este mundo afora...
Não se vive outra vez... O que chamas presente,
há de ser, amanhã, um romance apagado
que em vão procurarás reler, inutilmente...
O tempo tudo vence... Tudo ele consome...
E se um dia, talvez, lembrares teu passado
não mais hás de sequer reconhecer meu nome!...
Estranha Encruzilhada
Não sei por que cruzou com a tua a minha estrada,
o destino é inconsciente e não sabe o que faz...
- Encontro-te, e afinal, já sei que tu és amada,
encontras-me, e afinal, já é bem tarde demais...
Já não posso esquecer a existência passada,
perdi meu coração - o amor não tenho mais...
- já não tens coração, e a tua alma, coitada,
sofrendo há de ficar sem me esquecer jamais...
Até hoje nesse amor não tínhamos pensado:
é por isso talvez que em silêncio tu choras,
e em silêncio também meu pranto é derramado
Eu cheguei... Tu chegaste... Estranha encruzilhada:
se eu tenho que partir depois que tu me adoras,
se, tu tens que ficar sabendo-te adorada!...
Eu não Acreditava Mais
Eu não acreditava mais em ser feliz,
não pensava sequer
que viesse ainda a encontrar, na vida, verdadeira,
uma alma de mulher...
Não digo que a descrença invadisse o meu Ser
assim, completamente,
mas já estava perdendo as grandes ilusões
que em moço, a gente sente...
O mundo me ensinou depressa a compreender
a dor e o sofrimento,
e cheguei a pensar só poder ser feliz
em meu isolamento...
Agora, - e é sempre assim - depois que te encontrai
minha alma se desdiz,
e volto a acreditar na esperança longínqua
de um dia ser feliz.
Êxtase
A noite é silenciosa... A noite é quieta...
Desliza a lua na amplidão, prateada,
- e a abóbada do céu, azul, coalhada
de estrelas, vela o sonho de algum poeta...
Há pelo espaço a sensação discreta
de alguma sinfonia, a sós, entoada...
- Há em tudo uma alegria sufocada
e uma tristeza por demais secreta...
Da vida, sem querer, tudo se alheia,
e a vista deslumbrada, a nossa vista,
quase que louca pelo céu passeia...
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Fonte dos Textos
"Meu Céu Interior", 1ª ed., set. de 1934.
Pesquisa, seleção, revisões e edições por Euro Oscar.
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