Dois Textos de J. J. Benitez
Dois Textos de J. J. Benitez
1- Vento do Nascente
Como uma faca rente ao chão.
Assim passou por mim o vento da SABEDORIA.
E interroguei-o sobre a aflição.
- Não há maior aflição no Cosmo - silvou - do que não haver estado aflito nunca.
E as procissões de adagas seguiram acutilando o poente.
- Mas, dize-me, onde posso encontrar a VERDADE?
E antes que o vento do nascente pudesse responder, interroguei-o outra vez:
- Talvez no fim do caminho!
As facas se transformaram em serpentes sem cabeça que, entrando na poeira do meu caminho, sentenciaram:
- A VERDADE é exatamente o caminho.
- Dize-me, o que é a impaciência?
- Veneno para o espírito.
Enroscado em si mesmo, o vento do nascente continuou levantando a poeira dos bosques.
- E a cólera?
E o vento, distraidamente, sussurrou em meus ouvidos:
- A cólera é uma pedra lançada num vespeiro.
- Em ti, ó vento da SABEDORIA, está o poder de envelhecer os que buscam a VERDADE. Como poderei encontrá-la antes de ficar velho?
E as facas rente ao chão se afastaram e foram cravar-se no Sol, gravando em meu coração uma última resposta:
- A VERDADE não se encontra, sente-se... sente-se... sente-se...
(Texto extraído do excelente livro “A Outra Margem” – J. J. Benítez – Editora Mercuryo).
2- As Três Religiões
(Ao padre Eutimio, uma exceção).
Em busca da RELIGIÃO PERFEITA, capaz de aplacar minha constante insatisfação, olhei para trás.
Então vi uma humanidade primitiva, que adorava o raio e se prostrava temerosa diante do Sol e da Lua. E uns homens pintados, cobertos por máscaras e plumas dançavam ao redor do fogo, invocando o deus da chuva, clamando pela indulgência do deus dos ventos e pedindo a proteção do deus dos mortos. E aqueles feiticeiros eram temidos e servidos pelos homens, seus escravos.
Era a religião do medo.
Procurei então no presente. A humanidade não temia mais as forças da Natureza. O progresso havia dado um passo para uma nova religião: a da mente. Um sem-fim de igrejas lutava pela posse exclusiva da VERDADE. Todas dispondo de sua própria teologia e todas elas fazendo do princípio dogmático e da autoridade - que não deixa margem a discussões - as bases de sua existência.
Milhões e milhões de seres humanos aceitam sem discussão o agasalho que lhes dão tais religiões, que, em troca, entretanto, pedem-lhes uma submissão cega e total. Estabelecidas e cristalizadas, essas igrejas são o refúgio mais cômodo para aquelas almas que se veem assaltadas por dúvidas e incertezas. O preço a pagar é o da submissão e concordância intelectual a uns princípios, ritos e dogmas que, apesar de seu infantilismo e fossilização, são tidos e considerados como revelações divinas, manifestações sagradas e caminho de perfeição.
Diante dessas igrejas, vi centenas de milhares de novos feiticeiros, empenhados sobretudo na vigilância e manutenção desse princípio de autoridade. Com certeza não dançam ao redor do fogo nem fustigam seus fiéis com o látego, mas sua tirania acaba sendo mais cruel e desgastante: utilizam a obscura magia de palavras como Fé ou Salvação para destruir qualquer tentativa de liberdade e de busca espiritual.
É a religião do dogma.
Dirigi então meu olhar para o futuro. Por instantes senti-me perplexo: não vi nem igrejas nem religiões. Que teria acontecido?
A humanidade, em seu incessante avanço, havia terminado por compreender que o aprofundamento e o sempre parcial conhecimento das realidades eternas, da bondade do Pai Criador e do seu infinito poder e misericórdia nascem unicamente pelo espírito e por meio da vivência pessoal.
As cerimônias supersticiosas, as feitiçarias e as rígidas estruturas eclesiásticas haviam desaparecido, deixando lugar para a apaixonante aventura da busca pessoal. Os homens tímidos, vacilantes e temerosos de antanho eram já ousados e incansáveis "viajantes" de si mesmos, em constante e vivificante evolução. Da estagnação das religiões se havia passado à mais promissora das experiências, ou seja, encontrar Deus por nós mesmos e dentro de nós.
Será a RELIGIÃO do ESPÍRITO.
(Texto extraído do excelente livro “A Outra Margem”, de J. J. Benitez, escritor e pesquisador espanhol – Editora Mercúryo).
Fonte
Postados por Wagner Borges no seu site www.ippb.org.br.
Agradecimento
Wagner Borges concedeu-me muito gentilmente, via e-mail, em 11 de setembro de 2007, permissão específica para aqui aproveitar os interessantes e úteis materiais do seu amplo site do IPPB. Muitíssimo obrigado ao Wagner pela sua generosa e inestimável colaboração. Mais detalhes aqui.