
Poesias de Nara Rúbia Ribeiro - Página 3

Nara Rúbia Ribeiro nasceu em São Luis de Montes Belos, interior de Goiás. Estudou Teologia, formou-se em Direito e especializou-se em Direito Penal. Foi funcionária pública e também advogou por muitos anos. Em 2013 publicou o seu primeiro livro de poemas: “Não Borboletarás”.
Índice
Li o Noticiário e Vi;
Limitação;
Mãos;
Mirante;
Ninho;
O Deus dos Poetas;
Observatório do meu Anjo da Guarda;
Olhar de Hoje;
Origem;
Pedido;
Piedade.
Li o Noticiário e Vi
Sou devedora da Humanidade inteira.
Por isso, toda a dor do mundo me pertence
E não há sangue humano que não seja meu.
Sei, contudo,
Que não tenho olhos de medir
As engrenagens do Tempo.
Aquilo que o Eterno engendra
Não cabe na minha agenda.
E Ele me empresta os passarinhos
E a ternura das estrelas mortas.
Então caminho em paz pela vida,
Mesmo que a estrada me pareça torta.
Limitação
Meu coração é cristal de crepúsculo
Misturado à poeira batida do chão dessa estrada.
Poeira cósmica que beira o nada
E que me impediu de dar a ti
O diamante que pedes.
Confesso que pouco existo
E que o coração bate apenas por capricho
De fazer circular um sangue que tão pouco é meu.
Siga as estrelas,
Respira o sagrado silêncio imortal do universo,
Redija um verso nobre com a intensidade do infinito,
E saberás que sempre estou e estarei presente,
Em sonho, névoa,
Ou no sono de um céu poente.
Mãos
Se a ingratidão se acerca
Da vileza dos vãos da noite
E se a incoerência,
De espessa escuridão se amplia
Se na incerteza dos dias
Assoma-te a dor da tristeza
Do desprezo dos amados teus
Olha a tua mão:
Ela é pronta a abrir
A janela doutros mundos.
A mão que labora
Nos portais das eras internas
Não adoece de espera
Da reversão de um "adeus".
Mirante
Os teus olhos miraram os meus
E faiscaram universos inteiros
Versos invisíveis
E sonhos centenários.
Então, o meu mundo
Derramou-se de sol
E dissolvi-me no que sou
Até amoldar-me a ti.
Ninho
Não gosto muito de saber
As verdades do mundo.
Prefiro inventar
Minhas próprias verdades.
Por vezes raras
Vejo jornais.
Ontem vi uma mãe
Chorar o filho morto a tiros
Por animais que professam
Pertencer à espécie humana.
Ao descer do prédio,
Deparei-me com uma mãe beija-flor.
Ela construiu seu ninho
Em cima da minha garagem.
Quando me viu, colocou-se entre mim e o ninho,
Batia as asas, ameaçava atacar-me,
E retornava à proteção de seus ovos.
Cheguei a pensar comigo:
- Será que essa mãe viu o jornal da tarde?
Olhei bem para aquele ser minúsculo,
Dócil, frágil,
Que tentava afugentar-me a todo custo,
E disse:
Fica em paz,
Minha forma ainda é humana,
Mas meu coração passarinho.
O Deus dos Poetas
O deus dos poetas é o sacrifício.
O ofício sagrado
De fazer registrar a alma aos desalmados
E invocar o espírito dos “eus”
Ainda desavisados de ausências.
O deus dos poetas é o burilar profético
Do eu poético.
Poetar é profetizar o sagrado
De um peito inflado de auroras.
É fustigar o verbo,
Vencer a adjetivação mesquinha
Das entrelinhas da vida
E convidar o mundo a entoar
A nova canção concebida.
O deus dos poetas é mártir
E o poeta só glorifica
Aquilo que fica próximo à dor.
O deus dos poetas
É o coração da contagem das eras.
Verseja a soma de suas esperas
No refrão das labaredas
De sua concreta ilusão.
Goiânia, 2008.
Observatório do meu Anjo da Guarda
Meu anjo anda meio cansado.
Sentou-se ao pé do meu leito
E dormiu.
O tempo apiedou-se dele
E parou a contagem das horas.
Estática,
Parei de validar os medos.
Um anjo que dorme
Vale mais que mil anjos de pé:
Meu anjo da guarda não vela
O meu anjo
Sonha por mim.
(Do livro “Não Borboletarás”,
Editora Kelps, 2013.)
Olhar de Hoje
Adaptei-me a olhar o horizonte
Como quem desmente o longe.
Tudo é perto e paira e prima
Por carícias de minhas mãos.
O destino é brevidade
E o eterno é o todo interno.
Nada, além de mim,
Alcança o tempo.
Nada.
Origem
O poema nascido
das fontes mais cristalinas
é tão puro
quanto o poema que nasce
do monturo.
A poesia não guarda resquício
de vício da origem.
Seu corpo etéreo
Sua essência translúcida
Transcende seu próprio substrato.
E o poeta,
Maltrapilho e falho,
Cria as flores mais raras
E as belezas mais caras
Como que recria
O seu próprio eu.
Pedido
Minh'alma tem pés descalços
E olhos brilhantes infantis.
Ela veste trapos imprestáveis,
leva uma corda cingida à cintura
e vive em busca de borboletas,
versos e passarinhos.
Alma, peço-te, agora:
Leva-me junto de ti!
Carrega-me em teus braços...
És infinitamente maior do que sou.
Piedade
Tenho pena dos cegos.
Daqueles que não enxergam fadas,
Não notam o sol nos pirilampos
E não honram a liberdade
De sua própria alma.
Tenho pena dos surdos.
Não ouvem o cintilar das estrelas
Não decifram o enigma do canto das rosas
E nada podem saber
Do que diz o próprio coração.
Tenho pena dos ricos de raso afeto
E dos pobres abastados de certezas.
Tenho pena dos pássaros engaiolados em nós
Que gotejam vida ao nosso interior
Ao sangrarem a dor
Por lhes termos roubado
Um céu de total azul.
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Fontes
(1) Revista Prosa, Verso e Arte
(2) Fan page de Nara Rúbia
Ribeiro no Facebook
Muito obrigado à autora pela gentil
autorização para eu expor as suas
poesias neste site. Pedido feito e
atendido em 11 de agosto de 2019,
via Messenger do Facebook.
Direitos Autorais
© Direitos autorais reservados à autora.
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