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Poesias de Nara Rúbia Ribeiro - Página 2


Nara Rúbia Ribeiro

Nara Rúbia Ribeiro nasceu em São Luis de Montes Belos, interior de Goiás. Estudou Teologia, formou-se em Direito e especializou-se em Direito Penal. Foi funcionária pública e também advogou por muitos anos. Em 2013 publicou o seu primeiro livro de poemas: “Não Borboletarás”.



Índice

Confissão de aprendizado;
Contraste;
Desavesso;
Desfazimento;
Devaneios;
Encontro;
Esboço;
Evolução;
Graça;
Historinha pra Ninar Gigante.


Confissão de Aprendizado

Vi Deus sorrindo em um balanço nos céus.
Doutra vez, ele contava carneirinhos para dormir
E eu passei a ajuda-lo, até que peguei no sono.

Deus me pegou pela mão
E me ensinou a brincar de amarelinha.

Deus me ajudou a andar de bicicleta,
A soltar pipa e a amar cata-ventos.

Deus me ensinou a conversar com borboletas
E me fez descobrir que libélulas contam segredos de esperança.

Deus me ensinou que o amor será sempre eterno,
Se registrado na última página do caderno de matemática.

Ele me mostrou que não importa se o coração sangrou muito,
Um novo amor sempre o fará bater mais e mais forte,
Porque um coração nunca morre de amar.

Deus me ensinou que a maldade alheia também é minha
Se não consigo amar aquele que não é bom.

E que não importa a turbulência do dia
Ou as tempestades da noite:
Eu devo sempre contar carneirinhos com Ele,
Porque se entristece se o fizer sozinho.


Contraste

A paz que sinto é dissonância.
O medo, multiforme.
A ânsia de amor é contraste.

Fingir indiferença talvez seja o norte primeiro.
Subir a montanha mais alta
E contemplar o preconceito dos homens,
Como se ele estivesse ao pé dos meus sonhos.

Mas decidi caminhar pelas ruas concretas
Do finito das almas,
Enfeitiçar seus ladrilhos
E fazê-los plumas de esperança.


Desavesso

Se precisares, poenta-te,
Mas espreita a palavra.
O poema é o desavesso do tempo.
Nele, nada reside
Que não esteja a serviço da Luz.
E se um dia o teu sol quedar-se
Desinventado e vencido
Na superfície sulcada de um sonho bom,
Espreita o teu próprio peito:
A tua poesia tem os dedos de abrir
O olho morto de qualquer estrela.

(Do livro "Pazes".)


Desfazimento

Não sabes,
Mas o teu olhar arredonda o mundo.

Teu respirar ofegante,
Pássaro ferido de algum estilhaço de mim,
Quase me ofende.

E a minha alma,
Renda delicada
Rebordada na dor do impossível,
Se rende rasgada.

E sinto que tudo, enfim,
Se funde e confunde:
Tu, eu,
As asperezas do espaço.

E já sei que o que sou é um nada.
E que, dentro em ti,
A mim me desfaço.


Devaneios

A noite é uma esperança noiva,
E me vem em veste escura,
Como quem se descuida
Da espessura do tempo.

Nela aprendi
Que minha condenação é meu medo,
E minha liberdade é o passo,
Certo e constante,
A trilhar o som das estrelas.

Só a lua decifra o meu sonho
E o meu pensamento se recobre
De um breu cintilado
De infinitos eus.


Encontro

No dia em que eu chegar até mim,
Toparei comigo sem dizer palavra.

(Palavras sempre azedam os grandes encontros)

Terei uma rosa em punho,
Um escudo medieval cravejado de esmeraldas
E, ao descer do cavalo branco de minha paz mais pura,
Tencionarei convidar-me a me assentar à beira de algum
lado em mim.

Darei direção ao coração outrora aflito
E, comigo ao meu lado,
Contemplarei o infinito de cada estrela em que habito.

Ah, pensarei: "Caminhar comigo, achegar-me a mim e
habitar estrelas?
É certo que perdi o senso de vez..."
(Bilac é morto e não verá isso, graças a Deus!)

E emudecerei de mim para comigo.
Palavras sempre azedam os grandes encontros.


Esboço

Fiz o esboço
da face do Tempo.

Ele tem um semblante
de acariciar distâncias,
olhos de sonhar lembranças,
sorriso que desmente
a desmedida dor que envelhece.

A sua fronte tem contornos de infância,
seus cabelos tremulam no vento das Eras
e seus lábios sorvem do azul
a essência do sonho de Deus.

Ao concluir o desenho,
percebi uma invisível mão sobre a minha.

E um estrondo de muitas águas
banhou-me a mão
e arrastou-me o desenho ao Oceano da Espera.

E hoje vivo a busca da visão desse rosto,
a ânsia de sabê-lo de novo.
Como se eu não soubesse
que o meu Tempo, todo ele,
é só o meu peito enfeitado de mim.

Goiânia, 24 de maio de 2014.


Evolução

Chegará o dia em que será vergonhoso inserir,
após a palavra Deus,
todo e qualquer verbo.

Nada dirão sobre o que Ele pensa,
quer, sente, diz.

Ninguém mais matará em nome de Deus.
Ninguém mais difamará religiões em nome de Deus.
Ninguém acumulará fortuna em nome de Deus.
Ninguém ameaçará
ou manipulará o próximo em nome de Deus.

A palavra "Deus" reinará absoluta e solitária
em cada frase.

E, após pronunciada,
todas as pessoas farão uma pausa para que,
em silêncio,
possam sentir,
na dimensão poética e mística da existência,
sua pessoal expressão de Deus.


Graça

O meu para sempre
é provisório.
Sou viço falho de infinitos
Fagulha afogada de sonho
Ave aviltada de si.
Grito falhado,
sorte ufanada.
Mas onde sou vencida em tudo
um anjo mudo
me abençoa os nadas.

(Do livro “Pazes”.)


Historinha pra Ninar Gigante

Um rei medroso
Ordenou que fossem mortos
Todos os pássaros do seu reino.
Assim se cumpriu.

Daquele dia em diante
O canto que nascia vinha das entranhas das pedras.
Deu-se uma quebra no encantamento das coisas
E dragões desembocaram do espaço.
Parecia que o mundo inteiro findava.

O rei,
Desobrigado de sonho,
Fechou os seus olhos de esquecer de acordar.
Então, as crianças se aliaram aos poetas
E desenharam um poema
De passarinhos ressuscitados.

Foi aí que pequeninas pedras
Animaram-se a levitar.
Pouco a pouco ganharam penas,
Bico, asas, gorjeio de pássaro.
E as crianças descobriram
Que pedrinhas coloridas
São passarinhos disfarçados de chão.
Segredo milenarmente guardado.
Só o sabem as crianças e os poetas.

(Do livro “Pazes”.)

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Fontes

(1) Revista Prosa, Verso e Arte

(2) Fan page de Nara Rúbia Ribeiro no Facebook
Muito obrigado à autora pela gentil
autorização para eu expor as suas
poesias neste site. Pedido feito e
atendido em 11 de agosto de 2019,
via Messenger do Facebook.


Direitos Autorais

© Direitos autorais reservados à autora.

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