O Tao do Ocidente - 23
Palavras de Sabedoria: 38 e 39

38 - "Aos tolos o que avança parece estar retrocedendo."
De fato assim é. Se durante o nosso dia-a-dia, adotamos os métodos normais de aperfeiçoamento profissional, ou de crescimento funcional dentro da empresa, seremos vistos como um indivíduo perfeitamente inserido no contexto. Embora usar as costas dos colegas como trampolim de ascensão seja comentado pelos cantos como uma atitude repulsiva, no fundo essa mesma e exata atitude é aceita em nível de consciência informal.
Tal hipocrisia é a marca registrada da maioria dos fenômenos sociais a que assistimos a cada instante. Fala-se manso, enquanto a língua ferina é afiada em cantos obscuros; ideias produtivas são permanentemente roubadas; injustiças são feitas rotineiramente... E quem quiser fazer parte do sistema, tem que saber quais são e como funcionam as regras do jogo. Elas contrariam a moral vigente? Pois que se adaptem ou mudem-se os preceitos morais. Eles são feitos de barro, exatamente para isto!
Os tolos são aquelas pessoas que estão nadando e se afogando na lógica social. São aqueles que, consciente ou inconscientemente, batem palmas para os descasos e as mazelas corporativas. Nunca essas pessoas terão um pensamento criativo ou humanitário. E se, por alguma razão, elas os tiverem, estes serão rechaçados e substituídos por algum outro vindo do "establishment".
Entre as pessoas que questionam a validade destes valores desumanos, algumas resolvem buscar esclarecimento: o que é verdade, o que vale, o que não vale? Está certo agir assim ou não? Estes novos caminhantes sentirão as dificuldades iniciais criadas pelo seus próprios hábitos, e serão constantemente espicaçados pelo sistema, que no fundo eles passaram a ameaçar. Os que param, estes são os tolos, os loucos que continuarão a alimentar a máquina que os vai utilizando como lenha na fogueira social. E são exatamente esses tolos que julgam os que se mantêm na trilha...
39 - "Quem vive só para a matéria, está a um passo de a perder."
Viver para a matéria, é estar de tal modo absorvido com as coisas dos negócios, do trabalho, dos sentidos, dos produtos, que não há tempo nem interesse em se tornar uma pessoa mais sensível às coisas do espírito: filosofia, música, poesia, cinema, teatro...
Conheci uma pessoa realmente incrível. Um dia ele resolveu que não iria mais trabalhar. Era ainda jovem, porém a decisão foi irredutível. Ele sentiu um chamado interno muito forte – havia muito o que pensar e dizer. Em tempos antigos e menos complicados, essa atitude poderia ser considerada aceitável, afinal não existia a tecnologia. Hoje ele seria tomado como louco e irresponsável. Dizia: "Em nenhum lugar eu vi escrito que meus padrões teriam que ser esses ou aqueles. De qualquer maneira, acho que posso contribuir ao meu modo. Acho que as coisas estão muito erradas." Pois bem, assim ele faz até hoje, e vai vivendo de convites. Cabe a pergunta: esse indivíduo é pobre? Bem, ele pode não ter dinheiro, mas efetivamente não é pobre. Pelos seus méritos pessoais, é uma das pessoas mais ricas que conheço.
O Tao-Te-Ching, ao afirmar que quem vive SÓ para a matéria, está a ponto de perdê-la, alerta em poucas palavras que a matéria é fugidia e perecível. E o mais que já sabemos: você só pode apreciar uma pintura ou um objeto de arte quando o espírito funciona, quando a mente não deriva para outros aspectos, como o uso ou valor da peça. Ver por ver, ter por ter, é o caminho certo de se perder uma joia que temos nas mãos.
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Fonte do Texto
O Tao do Ocidente.
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© 2000. P. G. Romano.
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Agradeço a esse autor por
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Fonte da Imagem Editada
Autor: Sasin Tipchai (Tailândia).
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