
Parábolas - 4
Contrabando
Volta e meia, Nasrudin atravessava a distância entre a Pérsia e a Grécia montado no lombo de um burro. Toda vez passava com dois cestos cheios de palha e voltava sem eles, arrastando-se a pé. Em cada uma das vezes o guarda procurava por contrabando. Nunca o encontrou.
– "O que é que você transporta, Nasrudin?"
– "Não posso lhe dizer, mas sou contrabandista."
Anos mais tarde, com uma aparência cada vez mais próspera, Nasrudin mudou-se para o Egito. Lá encontrou um daqueles guardas de fronteira.
– "Diga-me, mullá, agora que você está fora da jurisdição grega e persa, instalado por aqui nesta vida tranquila: o que é que você contrabandeava, que nunca conseguimos pegar?"
– "Eu negociava os burros."
O Sermão
Certo dia, os moradores do vilarejo quiseram pregar uma peça em Nasrudin. Já que era considerado uma espécie meio indefinível de homem santo, pediram-lhe para fazer um sermão na mesquita.
Ele concordou. Quando chegou o dia combinado, Nasrudin subiu ao púlpito e se pronunciou:
- "Ó fiéis! Sabem o que vou lhes dizer?"
- "Não, não sabemos, responderam em uníssono."
- "Enquanto não souberem, não poderei falar nada. Gente muito ignorante, isso é o que vocês são. Assim não dá para começarmos o que quer que seja", disse o Mullá, profundamente indignado por aquele povo ignorante fazê-lo perder seu tempo.
Desceu do púlpito e retornou à sua casa.
Um tanto cabisbaixos, seguiram em comissão para, pedir, de novo, que Nasrudin fizesse um sermão na sexta-feira seguinte, dia de oração.
Quando veio o momento marcado, Nasrudin começou a pregação com a mesma pergunta de antes.
Nessa vez, a congregação respondeu numa única voz:
- "Sim, sabemos."
- "Neste caso - disse o Mullá -, não há porque prendê-los aqui por mais tempo. Podem ir embora."
E voltou para casa.
Por fim, conseguiram persuadi-lo a realizar o sermão da sexta-feira seguinte, que principiou com a idêntica pergunta anterior:
- "Sabem ou não sabem?"
A congregação estava preparada:
- "Alguns sabem, outros não."
- "Excelente! - disse Nasrudin - Então, aqueles que sabem transmitam seus conhecimentos para os que
não sabem."
E regressou à sua casa.
Muito doente
Nasrudin, sentado na sala de espera do consultório médico, repetia em voz alta:
- "Espero que eu esteja muito doente."
Os outros pacientes estavam espantados com essa atitude do mullá.
Quando o médico apareceu, Nasrudin repetia, quase aos gritos:
- "Espero que eu esteja muito doente."
- "Porquê você diz isso?" - perguntou o médico.
- "Detestaria pensar em alguém que se sinta tão mal como eu e não tenha nada!"
Nota: Mullá significa mestre.
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